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Foi apresentado esta terça-feira, 11 de agosto, o projeto “Rede Cultural Aljubarrota 1385”, uma iniciativa conjunta dos municípios de Alcobaça, Batalha e Porto de Mós com o objetivo de promover eventos culturais, bem como a divulgação do património associado à Batalha de Aljubarrota, que em 2020 cumpre 635 anos.
O projeto visa essencialmente a realização de atividades culturais associadas ao património histórico de Aljubarrota, cuja significância é comum aos três municípios parceiros da iniciativa.
No âmbito da “Rede Cultural Aljubarrota 1385”, estão previstas a criação de três espetáculos, a realizar em 2020 e 2021. Os projetos comuns aos três municípios, com data e local a anunciar, serão:
- Uma peça de teatro levada a cabo por grupos amadores dos três concelhos com base em textos do dramaturgo Luís Mourão.
- Uma peça de teatro infantil criada pela companhia alcobacense S.A. Marionetas (co-promotor da Rede)
Cada município também terá programação própria associada ao tema. No caso de Alcobaça, está a ser preparado um grandioso espetáculo multifacetado, liderado pela S.A. Marionetas com a colaboração dos grupos A Corda e a Companhia Livre, ambos sediados em Aljubarrota. Este espetáculo será apresentado em Agosto de 2021.
“Esta lógica da rede é fundamental para a partilha de recursos essenciais ao apoio do setor cultural, um dos mais afetados na sequência da pandemia. Associada a essa vertente, queremos efetivamente trabalhar aquele que é um dos mais importantes e históricos territórios. Não apenas a nível da afirmação da independência do país, como também a nível mundial, pois foi a Batalha de Aljubarrota e a vitória dos portugueses que permitiu a independência nacional que levou à expansão marítima e à conquista de novos mundos”, sublinhou o Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, Paulo Inácio.
Eduardo Amaral, vice-presidente da Câmara de Porto de Mós relembrou que “aquando da batalha de Aljubarrota, este território ainda não tinha fronteiras municipais definidas tal como hoje as conhecemos. É precisamente esse espírito de união e partilha que se privilegia com este projeto”.
Para o Presidente da Câmara da Batalha, Paulo Baptista, “no nosso país, os verdadeiros mecenas da cultura têm sido os municípios. É uma responsabilidade que queremos honrar ao mesmo tempo que dinamizamos um território unido em torno de uma história e geografia comuns.”
A “Rede Cultural Aljubarrota 1385” é um dos três projetos onde o Município de Alcobaça está envolvido, que serão candidatados aos fundos do programa “Programação Cultural em Rede” cujo aviso foi emitido em julho pelo Programa Operacional – Programa Operacional Regional do Centro.
Município de Alcobaça assinala os 635 anos da Batalha de Aljubarrota
Na próxima sexta-feira, dia 14 de agosto, comemoram-se os 635 anos da Batalha de Aljubarrota, um momento decisivo para a independência de Portugal, decorrido a 14 de agosto de 1385. A batalha que opôs as tropas de Castela ao independentismo lusitano, afirmou a noção de portugalidade e proporcionou a expansão marítima, rasgando rotas, levando a língua portuguesa aos quatro cantos do mundo.
Dada a sua importância, o Município de Alcobaça irá assinalar esta data com uma missa na Igreja dos Prazeres, em Aljubarrota, seguida de cortejo para deposição de coroas de flores junto à estátua de D. Nuno Álvares Pereira e junto à Estátua da Padeira da Aljubarrota.
“Dadas as atuais circunstâncias, não foi possível realizar a Aljubarrota Medieval e a tradicional recriação da Batalha de Aljubarrota, eventos cuja popularidade conquistada nos últimos anos é propensa a ajuntamentos sociais. No entanto, não deixaremos de celebrar esta data histórica de uma forma simbólica e adequada às restrições de segurança vigentes”, sublinha Paulo Inácio, Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça.
Comemorações dos 635 anos da Batalha de Aljubarrota
14 de agosto de 2020
18h00
Missa na Igreja dos Prazeres, em Aljubarrota seguida de cortejo para deposição de coroas de flores junto à estátua de D. Nuno Álvares Pereira e junto à Estátua da Padeira da Aljubarrota.
Sobre a Batalha de Aljubarrota (14 de agosto 1385)
A data de 14 de agosto de 1385, foi o culminar de uma época, em plena Idade Média, na qual Portugal vivia um clima de tensão política e social. Por um lado, durante a Crise de 1383, subsistia dentro da corte o desejo da união a Castela. Por outro, muitos lutavam para defender a independência de Portugal. O povo português não aceitava perder a sua nacionalidade.
O rei, D. João I, Mestre de Avis, há muito que preparava a defesa de Portugal. Do lado de Castela, D. Juan I planeava tomar o trono português e opta por fazer um cerco a Lisboa. E assim foi. O cerco durou 3 longos meses e só terminou quando Almada se rendeu por falta de água.
A Batalha foi-se aproximando dos Coutos de Alcobaça e viria a decorrer entre os campos de S. Jorge* e os de Aljubarrota, junto aos atuais concelhos de Alcobaça, Batalha e Porto de Mós. Frei João de Ornelas, Abade do Mosteiro de Alcobaça, foi uma preciosa ajuda para o exército de D. João I. Enviou cerca de 300 homens para combater os castelhanos e, defendendo a ponte de Chiqueda, fez com que o exército de D. Juan I se atrasasse.
Mesmo em desvantagem numérica no número de cavaleiros e com a população fragilizada, D. João I decidiu avançar e elegeu D. Nuno Álvares Pereira como o estratega para comandar o destino dos portugueses.
Para este combate, D. Nuno criou uma prática militar, a técnica do quadrado, que impulsionou a vitória portuguesa. Para esse dia, na charneca de S. Jorge, posicionou os cavaleiros em quadrado para criar uma ilusão de que existiam mais homens. Conseguiram assim atrair os invasores para dentro do quadrado atacando-os de todas as frentes. Os numerosos fossos e covas-de-lobo, cobertos com abatises foram autênticas armadilhas.
Portugal venceu quando estava em clara desvantagem. A diferença numérica não ditou o seu destino. Mais, tarde, em 1386, D. João I mandou edificar o Mosteiro da Batalha como agradecimento à Virgem Maria pela vitória na Batalha de Aljubarrota.
Esta Batalha representa a afirmação da independência de Portugal e da sua gente.
Atualmente, na vila de Aljubarrota, ainda podemos viver e sentir o espírito dos portugueses lutadores, que não desistiram de preservar a nossa identidade. A Câmara Municipal de Alcobaça traçou em 2017 um percurso de lançou um roteiro que permite percorrer a vila pelos seus pontos mais marcantes (casa da Padeira, Igreja de São Vicente, Núcleo de Arte Sacra, Janelas e Casario, Pelourinho, entre muitos outros) – para marcar uma visita acompanhada contacte o Posto de Turismo de Alcobaça - E-mail: turismo@cm-alcobaca.pt | Tel. 924 032 615.
*pertencente atualmente à freguesia de Calvaria de Cima, concelho de Porto de Mós.
Padeira de Aljubarrota – Heroína do Povo
No ano da violenta da Batalha de Aljubarrota, em 1835, depois de vencidos, muitos castelhanos fugiram temendo pelas suas vidas.
Conta a lenda que sete fugitivos ao tentar encontrar abrigo e mantimentos, entraram em casa de Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota. Os homens encontraram a casa vazia, quando Brites teria ido ajudar a população de Aljubarrota a expulsar os invasores que ficaram depois da Batalha.
Brites de Almeida, mulher forte, alta, feia de aspeto, com uma força e coragem admirável, ao chegar a casa naquela noite, encontrou a porta fechada e desconfiou. Deu de caras com sete castelhanos famintos dentro do seu forno e não esteve com meias medidas. A Padeira e a sua gente, com a pá apontada pelo ferro afiado do raer, que utilizava para afastar as brasas do forno, mataram os sete castelhanos de uma só vez.
Assim se eternizou a lenda Padeira de Aljubarrota: heroína e mulher do povo, símbolo do patriotismo e do nacionalismo português. Defendeu a independência nacional com as suas próprias mãos, e, por isso, permanecerá no imaginário dos portugueses.
“Em Aljubarrota, Portugal descobriu um dos seus símbolos máximos de heroicidade e de exemplo de resistência popular, a sua Forneira ou Padeira, modelo popular de Joana de Arc à portuguesa exemplo da força e das convicções firmes de outras mulheres lusitanas, como Maria da Fonte, capazes de mudar o rumo da história do seu país”. (Saul António Gomes, in “Aljubarrota, uma freguesia”, 2019)
De que forma Aljubarrota foi determinante para a expansão marítima portuguesa?
Aljubarrota consagrou a independência de Portugal, dele resultando, entre outras consequências, o aprofundamento da consciência política da nacionalidade entre os diversos grupos sociais, a consolidação no trono de uma nova dinastia reinante que soube responder aos desafios da construção do futuro de Portugal nesse tempo e, ainda, uma herança memorial coletiva que o povo português, desde então e até à atualidade, brande em momentos de crises que ameaçam a soberania nacional.
A nova dinastia de Avis, com reis de grande visão e cultura política, soube conduzir o povo português a novos destinos geográficos que abriram oportunidades de crescimento económico e de expansão territorial que muito enriqueceram o país e contribuíram para a boa memória histórica que essa época nos legou.
Essa expansão foi essencialmente marítima, comercial mas também militar, de conquista de novos territórios sujeitos à soberania dos reis de Portugal e nos quais muitos portugueses encontraram a oportunidade de melhorarem as suas vidas, levando com eles a Língua, que se tornaria a verdadeira "pátria portuguesa", a Fé cristã, que os motivou e em que acreditavam e os costumes, o modo de ser e de estar no mundo, como portugueses, conscientes de um passado no qual encontraram, em muitos momentos e grande desafios, a força e a motivação para vencerem as adversidades com que se confrontavam constantemente.
Saul António Gomes, especialista em História Medieval, professor e investigador na Universidade de Coimbra